Começo.

Antes de começar a ler coloque a música pra tocar.

  Eu ainda lembro todos os segundos do teu sorriso torto, das tuas manias; ainda lembro todas as noites da tua companhia ao meu lado da cama, do teu abraço. Acostumar com o vazio que ficou é a pior parte, mas acostumar com a lembrança do teu cheiro e não tê-lo é pior ainda. Como poderia esquecer a noite em que tudo terminou se na mesma noite o novo ano começou?

  Janeiro carrega em seus braços fim e começo, lágrimas e sorrisos, noites em desespero; carrega a linha tênue entre companhia e vazio, esperança e descrença, resistência e desistência; carrega a linha tênue entre nós dois, a linha que nos separou.

  Deixo a bebida sobre a mesa, enxugo as poucas lágrimas que ainda insistem em cair, olho-me no espelho e pouco me reconheço, alguma coisa mudou em mim e nem sei reconhecer ainda o que foi. Recolho do chão os pedaços do coração que ainda estão por lá e jogo todos no lixo, pra que reconstruir se preciso de um novo? 2015 começou e eu preciso também recomeçar... Vasculho as gavetas jogando fora o que não serve mais, tiro a poeira dos cantos, costuro as cicatrizes abertas, chega de lágrimas para tentar te esquecer, a madrugada lá fora convida a lua a brilhar imperando na noite enquanto o dia chega devagar e despretensioso. E quando o sol chegar trazendo um novo dia não quero estar no chão outra vez.

  O dia que irá nascer é só mais um dia comum de janeiro, o que mudou fui eu. Tomo uma xícara de café forte pra tirar a ressaca do amor que tentou e não se fez; abro as janelas e deixo a luz do sol iluminar a sala junto com a brisa leve que me inspira a renovar o espirito. Pego as malas que arrumei durante toda a madrugada regada a lágrimas e caminho rumo ao começo. Completa na solidão pego carona no sorriso de alguém qualquer e sigo sozinha em busca da felicidade que deixei partir.

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